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sábado, 3 de setembro de 2016

Um dom como esse


Uma vez puseram um piano em frente a uma loja
para quem passando por alí, poderia tocar se o quisesse.
Claro, alguém que houvera estudado e soubesse.
Mas a vida é assim,
sem que a gente espere o inusitado acontece,
e eis que vindo um morador de rua,
e vendo alí o piano na calçada,
largou suas tralhas e sentou-se ao piano
e antes que alguém por sua aparência o julgasse
indigno ou até incapaz de tocá-lo,
executou um linda canção ao piano
antes mesmo que alguém arrancá-lo dali pudesse
e sua habilidade ao piano e a beleza da música
que suas mão produziam eram tamanhas
que era impossível a quem passando por alí não se comovesse
Como pode sob aquela horrenda figura das ruas,
abandonado e franzino,
ninguém em sã consciência como um exímio pianista o reconhecesse
e pensasse naquele instante como ele vivendo essa vida
de miséria e de esperança vencida
sua mente não se corrompesse
e sua arte e seu dom dele não se esquecesse
Só o que se pode dizer, sim dele dizer é que
o colocamos na mente e no coração através da vida
nada pode tirar, nada pode apagar,
vai além das estrelas,
foi com ele assim,
pois por mais que sofresse
que apanhasse da vida e mal sobrevivesse
foi o que a vida lhe deu e foi o que pode guardar
quantos queriam ter um dom como esse.

           Manoel Augusto


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