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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

De uma mesma substância


Por que guardar esta distância
Se é ela que me fere e te fere lá dentro de nós,
no íntimo de nós onde somos da mesma substância
ou será que o que nos separa é um vontade incontrolável
de não nos maltratarmos e que se torna esta inexplicável intolerância
ou dizer que amo seria de minha parte jactância
ou será que sentir-te e dizer-te não é dialética, é redundância?
Talvez o problema não seja sentir,
talvez seja essa teimosia semântica
E me enlouquece saber que quanto mais quero te aprender
mais me aproximo de uma crescente ignorância
de saber-te, compreender-te e
aceitar esta inaceitável equidistância
pois o que mais me amedronta talvez seja
receber de você um olhar de insignificância
ah, mas eu sei que não vamos jamais esquecer
nossa interminável infância
onde só estar com você, e ficar com você é que tinha real importância
eram as flores, eram as ruas, a primavera da vida
e sua inconfundível fragrância
e não importava se tinhamos dos outros uma implacável vigilância
talvez fosse ciume, inveja ou quem sabe era só implicância
Onde foi que nossa música se tornou dissonância
e te oferecer minha mão relutância
talvez seja hora de corrermos depressa pra outras instâncias
então, que seja,
vamos esquecer esta distância
essa que nos separa afinal somos eu e você
de uma só substância!

              Manoel Augusto

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